Arrogância acadêmica e humildade intelectual
- mboona
- 23 de dez. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 10 de jan. de 2022
A importância de resgatar em Angola a humildade como princípio fundamental no caminho dos estudos e do aprendizado.

Temos uma tendência em Angola de formar uma parcela muito pequena da população no espaço universitário. E quem cursa tem grande chance de cair na armadilha da arrogância intelectual.
Em Angola a arrogância se tornou uma forma de poder de quem quer inflar o ego se achando superior apenas porque estudou um tema x ou tem um título acadêmico em qualquer área.
Quem sabe não nos preocupamos mais em compartilhar reflexões humanas e críticas, ao invés de cultivar a arrogância como diploma de estudo superior?
Algumas perguntas provocadoras de debate: para que e para quem serve o teu conhecimento?
A vaidade e a arrogância intelectual marcam a vida acadêmica. Por trás do ego inflado, há uma máquina nefasta, marcada por brigas de núcleos, seitas, grosserias, humilhações, assédios, concursos e seleções fraudulentas.
Esses comportamentos demonstra o que há de pior nos acadêmicos, além da inteligência, há por trás um alto nível de preconceitos racial, social, de gênero, religioso, cultural e linguístico. O ambiente que valoriza o conhecimento é propício para que as pessoas exibam aos quatro ventos seus dotes intelectuais.
“Se a gente faz uma coisa bem demais, aí, depois de algum tempo, se não tiver muito cuidado, começa a se exibir. E aí a gente deixa de ser bom de verdade.” – O apanhador no campo de centeio
Alguns exemplos são os alunos que usam citações de livros a cada frase mesmo em conversas informais, usam roupas formais (fato e gravata) em locais ou encontros não convencionais, os professores que exigem ser tratados como doutores (muitas vezes só tendo Licenciatura ou Mestrado) e se julgam superiores aos outros, etc.
Estas pessoas necessitam ficar em posição de destaque, querem ser admiradas pelos outros e seu trabalho torna-se um meio para atingir tal visibilidade. Tornam-se cientistas não pela contribuição que podem trazer à sociedade, mas pelo status que a academia (Universidade) lhes proporciona. Há aí uma inversão de valores, penso eu.
Estudantes
Há estudantes, tanto do primeiro, segundo ou até ultimo semestre do curso que se julgam tão importantes que tratam as pessoas como subordinados e exigem que sejam tratados por todos como “Dr. Fulano”, “Eng. Fulano”. Muitas vezes, no entanto, a arrogância que toma conta destas pessoas não tem nada a ver com a verdadeira importância do trabalho que realizam como estudante.
Pare e pense como tratamos professores de nível básico, bombeiros, lixeiros, entre outros. O trabalho destas pessoas é menos importante do que o de um cientista? Podem discordar, mas acredito que em muitos casos, a importância do dos estudantes e professores angolanos é bem menor, considerando o impacto efetivo que provocam na sociedade. Sendo Angola um país atrasado quando se trata de pesquisas.
Angola ocupa o último lugar no Índice Global de Inovação (IGI) deste ano, onde constam um total de 132 países, lamentou, esta sexta-feira, 08 de novembro de 2021 em Luanda, a ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo.
Para sair da última posição do IGI, a ministra defendeu mais investimentos para a investigação científica nos diferentes ramos do saber, com destaque para a educação geral, mas relevando a educação terciária e o ensino superior.
Mesmo com um nível tão baixo, a arrogância dos estudantes e dos professores universitários continuam tão alto, mostrando que não se dedicam a elevar o ensino e as pesquisas nos polos universitários, e trazer o debate de maneira humilde a população e a comunidade internacional, a ponto de representar o potencial de Angola a nível mundial.
Mesmo havendo, financiamento de projetos científicos e apoio de estudantes no exterior, Maria conclui que: "Na fase actual, houve apoio financeiro para a realização do projecto de investigação científica. Agora, a responsabilidade é dos investigadores que têm o suporte para fazer com que os projectos resultem em elementos que constituem conhecimentos para maior criatividade nas empresas nacionais”, disse a ministra Maria do Rosário Sambo.
O que me admira é que existem muitas pessoas lambe botas que alimentam a vaidade alheia. Vejo estudantes que aceitam ser colocados em posição inferior por seus orientadores e professores. É como se admitissem que a superioridade existe, que o título de professor ou doutor, a inteligência ou a importância de seu trabalho garantem a estas pessoas o direito de tratar os outros com desrespeito e arrogância.
Quando questionados, alguns chegam a afirmar que é um privilégio poder conviver com estas pessoas devido à sua importância. Outros, mais conscientes, acreditam que vale a pena sofrer um pouco em troca de aprendizado, que as humilhações fazem parte do percurso.
Há sempre uma escolha...
O que me preocupa é que enquanto houver discípulos para alimentar a arrogância de algumas pessoas, a situação em Angola não mudará e o ensino continuará no ultimo lugar no mundo. Além disso, há sempre uma tendência da criatura espelhar-se em seu criador e assim perpetuar a espécie.
Por isso, precisamos mudar a consciência acadêmica para fazer o país crescer. "A educação para o Empreendedorismo vai ajudar os alunos a pensar fora da caixa, a cultivar talentos e habilidades não convencionais, a gerar ideias que, de forma genética, podem resultar em novos produtos, processos ou negócios”
Ao considerar a investigação e o desenvolvimento como pilares fundamentais para a inovação, referiu que "a fraca percentagem do PIB em gastos com a ciência no país é uma fraqueza que temos de superar com a operacionalização da Fundação de Desenvolvimento Científico Tecnológico (FUNECIT), criado recentemente”.




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